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Imperiais do Samba 2015 – “IMPERIAIS SUR-REALISTA: NEM FREUD EXPLICA!”

Abertura

Vencidos os primeiros 15 anos dos anos 2000 ainda não atingimos o mundo que queremos. Ele ainda é herança das falsas verdades indestrutíveis do XIX, mas também é legado das atrocidades do breve século XX, limitado pelas duas grandes guerras mundiais na visão de historiadores como Eric Hobsbawn.

Buscando levar essa mensagem de que ainda podemos criar um tempo novo, um povo novo de um universo novo, a Imperiais do Samba realiza a primeira reedição da história do Carnaval Virtual. Reembarcamos nos delírios de Salvador Dalí, ícone maior do movimento surrealista que cantamos no desfile virtual de 2007.

Delirantes, podemos sim sermos as transformações que queremos ver no planeta.

Abram os olhos irmãos!!

O sonho não acabou!!!

E é esse sonho sem fim para cada um de nós imperianos, a nossa escola, que mais uma vez alucina e encanta.

Sem medo de sermos felizes… tentemos o impossível!!

Vamos à luta, Imperiais do Samba!!

MEU PAVILHÃO É RAIZ QUEM É DAQUI É QUE DIZ

SAMBISTA QUE É SAMBISTA NÃO SE ENGANA

MEU SONHO DE VERDADE, MINHA PAIXÃO SURREAL

IMPERIAIS, TEU POVO TE AMA!!!

SETOR 1 – O CHOQUE DE DOIS MUNDOS

Brilhou no céu

O fogo da dor e da guerra

Irmãos de raça levantam as armas

Explode um novo tempo!

O bom homem, crente fervoroso de seus saberes olhava o horizonte. Uma densa nuvem negra escorregava das alturas da terra sem fim. Por toda Europa as luzes se apagavam, para nunca mais se acenderem…

O século XX, um novo tempo, explode nas cores rubras e sanguíneas das Guerras Mundiais. Após a Bela Época centenária do XIX, a paz absoluta e suas tantas outras verdades aparentemente indestrutíveis, se chocaram com a voracidade humana. Seres humanos, irmãos da mesma raça humana, lançaram contra si todo potencial tecnológico desenvolvido até o momento. A lógica da guerra perdeu sua razoabilidade e o perigo da extinção da humanidade se agudizou.

Chocante como tudo se transformou tão rapidamente….

Os sonhos de Lumièré, os irmãos inventores do cinema na Bela Época, tornaram-se testemunhas do horror pelo fiasco da humanidade. Filmou-se a crueldade da Primeira Guerra Mundial e pela primeira vez, até mesmo quem não participou do conflito, viu, ouviu e “sentiu” a agonia dessa praga beligerante. Sonhos e pesadelo…

A percepção do microcosmos com as teorias de Rutherford no XIX, os átomos com suas camadas elétricas, um pequeno universo que forma imensos universos animados ou não – seres vivos e objetos – também abriu caminho para que a ruptura desses pequenos cosmos causasse a potencial morte do macrocosmos com o terror dos armamentos nucleares da segunda metade do século XX. Vida e morte…

Terrível choque de mundos, o ideal do século XIX com o real do XX, fez a humanidade incorporar a obra de Munch e dar o seu grito. Pena que parecia não sair som da boca dos homens, pois o som de suas armas abafava a tudo.

SETOR 2 – A PARANÓIA DO INCONSCIENTE

Dalí embarca em seu sonho

Desafiando a razão, grande tentação

Na paranoia se liberta o inconsciente

E faz recomeçar!

Um mundo

Onde o baile das águas se faz entre as nuvens

Onde a terra caminha sobre horizontes

E grãos dão vida às constelações

A desolação se espalhou por toda a Terra. A descrença propagou-se como urubus a comer os restos de verdades absolutas do século XIX. A raça humana havia visto a face da guerra com suas górgonas sibilantes e estava fragilizada em sua psique.

Neste imenso cenário de morticínio que a psicanálise de Freud e a arte de Le Breton se unem dando vasão ao movimento surrealista. É neste triste escarcéu que o excêntrico Salvador Dali embarca em seu devaneio, além da própria realidade. “O sono” grandioso da humanidade pós conflitos mundiais se iniciava…

A racionalidade é desafiada e, como “na tentação de Santo Antônio”, de joelhos, o consciente cai diante do inconsciente galopante sobre pernas de aranha: o surreal suplanta a compreensão!

Tal qual uma tela em branco, a inexistência passa a ser recriada pelas pinceladas alucinantes de Dalí. A paranoia liberta todo poder para que o universo recomece.

Com um forte movimento, o fino risco suspenso no ar torna-se cada vez mais denso e ganha ondulações turbulentas. Avoluma-se e se expande tornando-se um enorme rio suspenso. De suas águas saltam estranhos seres. São peixes-nuvens similares a ovelhas escamadas. O céu vai surgindo sobre a cabeça surrealista do criador.

O rio segue até os confins e lá desagua em um horizonte com suas terras inversas, com seus cisnes que são elefantes. Afinal, aquilo seria apenas um reflexo do que há embaixo dos pés? Mas o que há sob Dalí? Nada… o branco vazio e nulo.

No entanto, isto dura pouco tempo. Das alturas profundas e aquáticas, precipita uma tempestade de gotículas multicores. A brancura vai sendo coberta por um mosaico colorido de onde surgem flores. Com um leve sopro, os grãos de pólen vagam por todos os cantos dando origens a estrelas e constelações, aqui e ali, no chão aéreo e por sob os pés do criador surreal.

Um novo universo ganhava sua (des)forma.

SETOR 3 – UTÓPIA: UM N”OVO” DESTINO

UM N”OVO” DESTINO

BRILHA O SOL, GIRA NO INFINITO

UM COMETA QUE DESCE

UTOPIA SE TECE À LUZ DA ILUSÃO

Do campo florido de tinta um novo destino para a raça humana começou a ser traçado. De um ovo dourado rajado, um belo amanhecer surge. Rompe-se a casca d´aurora e ergue-se um girassol azulado lançando sua tonalidade sobre o universo que vai se compondo pela criatividade fugaz de Dalí.

Do chão aquarelado brota um jardim de delícias surrealistas. Macieiras, com seus frutos mordidos vão surgindo uma após outra. No interior dos frutos há aquilo que lembra uma borboleta de asas abertas. São os verdadeiros frutos do pecado de ser livre!

Das pastagens longínquas surgem os elefantes com cabeças de trombone e os antílopes com chifres de harpas. A musicalidade selvagem da vida ressoava em notas fortes e vibrantes!

Caravelas voadoras borboleteiam emergindo do caudaloso rio aéreo. Não há velas e sim borboletas iluminadas e multicores. Seriam afinal, insetos ou embarcações a cortejarem a invenção maior que se aproxima?

Vem então, do horizonte inverso, das colinas que coroam cabeças, um cometa desgovernado faiscando que se precipita em direção ao solo. Rachando-se, lança-se do seu interior um homem neo-geográfico. Um ser puro, de olhos curiosos e mente ávida por saber sobre tudo que há ao seu redor.

Tecia-se assim, de forma inicial e sob a luz da ilusão surrealista, a incrível utopia da nova humanidade.

SETOR 4 – FABULAÇÕES DA HUMANIDADE

É o poder da criação…fabulações sem fim

A humanidade se buscando em teorias

Se descobre pequenina

Entre grandes ilusões

Renascente, a humanidade ávida por saber e explicações passou a ocupar espaço no universo recém recriado. Palmilhou cada centímetro do imenso painel aquarelado. Foi por tanto querer, por tanto observar, refletir e cobiçar o possível e, principalmente o impossível, que o ser humano criou incríveis fabulações.

Do galho das árvores, homens-macacos com asas de anjos, trajados no melhor recorte do século XIX, vão se empoleirando trazendo nas mãos quadros de Charles Darwin. Seriamos todos anjos ou macacos? Dividida, a humanidade buscava fabular formas para entender sua origem de fato…um cometa só não bastava para saciar suas dúvidas?? O ser humano não suporta a dúvida…

Por detrás de uma pedra, centopeias que tem patas de um lado como foices e de outro como martelos possuem cabeças humanas semelhantes a Karl Marx. A teoria do marxismo, de uma sociedade igualitária comunista a partir da união dos trabalhadores do mundo, foi tida por muitos como uma das verdades da Bela Época. O Estado seria destruído pela força dos camponeses e dos operários. Só havia se esquecido que o poder corrompe e, uma vez tendo-o em suas mãos, jamais irá destruí-lo ainda que para desmantelar a desigualdade entre os iguais.

Vindo de outras paragens, estranhos homens de casacas riscadas de giz e cartolas, que mais lembravam ampulhetas, traziam seus corpos mesclados a folhagens, cactos deixando claro como eram influenciados pelo clima e vegetação dos locais de onde eram originais. Filhos do determinismo geográfico, davam visão à teoria que apontava como as condições do espaço geográfico determinavam o sucesso ou o fracasso de um povo. Pobre ideia que limitava a humanidade do XIX e do XX.

Ao longe, próximo de um lago azul acinzentado, muitos seres humanos olhavam embasbacados para inúmeros relógios moles que bailavam na película d´água. E a persistência da memória Enfeitiçados como Narciso, traziam todos a face daquele que relativizou a ideia de tempo no século XX, Albert Einstein. Foi a partir de suas teorias que a lógica tempo e espaço se modificou, que descobriu-se que energia e matéria se unem de forma única a ponto de destruir tudo que existe. Loucura das nações… loucura de todos os tempos… a humanidade nunca percebeu que ela mesmo perece sem poder travar os ponteiros do relógio universal.

Nessa procura insana por teorias grandiosas que dessem sossego às dúvidas interiores, a humanidade percebeu o quanto era pequenina. As verdades absolutas eram falhas e facilmente mutáveis e/ou contestáveis. Cabia então a todos os seres humanos tentarem um outro caminho…

SETOR 5 – “SEJAMOS REALISTAS… TENTEMOS O IMPOSSÍVEL!!”

Revela a arte perfeita

A paz que clareia tantos corações

Beleza a refletir na humanidade

Transformando a verdade

Vai passo a passo despertar um ideal de amor

Abram os olhos irmãos!!

O sonho não acabou!!

Desatinada, mas ciente de como as falsas e imensas verdades não eram capazes de darem sentido a toda existência, a humanidade então busca a arte perfeita da harmonia e da paz, capaz de matizar em muitas cores as diferenças dos seres humanos.

Surgiram assim pessoas prontas a navegarem pelo infinito rio aéreo em busca da sonhada realização da perpétua pacificação e serenidade da raça humana. Traziam em suas costas enormes velas e no peito um timão. Escalando as árvores de ponta cabeça, alcançando as raízes altas puderam tocar as águas e partiram em expedição.

No campo colorido cravejado de macieiras surgiram personagens robustos, de panças salientes, trazendo consigo cavalinhos de pau ornados de flores brancas. No peito cartucheiras de botões de rosas fechadas. Na cabeça um chapéu napoleônico repleto de luas, estrelas e nuvens. Sancho Panças primaveris anunciavam a vinda do cavaleiro redentor que enfim anunciaria o novo despertar.

Pouco a pouco, por sobre as carapaças de tartarugas gigantes com patas de gafanhoto, enormes moinhos de vento com suas hélices feitas de borboletas giravam espalhando faiscantes pontos dourados por toda terra sem fim.

Dentre os moventes moinhos reptilianos, eis que se aproxima o criador de tudo. Munido de armadura reluzente sobre uma zebra com patas de aranha, o Dom Quixote Surrealista, Salvador Dalí, ergue sua espada-pincel e brada em alto som para todos os viventes de sua criação:

“Sejamos realistas… tentemos o impossível!!

Reviver não o mundo que tivemos um dia… mas reviver em nós o mundo que queremos ter um dia!!

Abram os olhos irmãos!!

Esse sonho não acabou!!”

E em um giro alucinante das hélices borboletais dos moinhos a claridade engoliu tudo…

Ao abrir os olhos no século XXI a humanidade encontrou escombros do tempo anterior. Ao invés de maldição… a necessidade é encarar o despertar como uma possibilidade de enxergar o mundo que vivemos como uma enorme tela em branco, pronta a receber nossas melhores criações, nossas melhores cores vivas, nossos maiores e mais valiosos sonhos e anseios.

Sejamos como Salvador Dalí… passemos da realidade e tentemos o impossível!

E por toda Europa… América, Ásia, África e Oceania as luzes voltaram a se acender.

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